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"A Arte de Ser Feliz"

Tentas estender uma toalha na areia.
Tentas outra vez.
Enfureces-te.
Por mais que tentes, não o consegues fazer: o vento lateral não o permite. Nada dá certo, a vida garantiu-se disso antes sequer de começares. Às vezes, há destas coisas... o que pode um mero mortal fazer que não submeter-se ao que lhe foi tão rudemente oferecido?
As rodas dentadas do universo nunca param de girar. Deus certifica-se disso e de que o vento continua a soprar forte, enquanto tu permaneces vítima daquilo que não controlas. Olhas o céu com desespero, enquanto sentes a fé esvair-se pela ferida aberta do teu espírito. Tanto que demorara a instalar-se e tão depressa que se foi... o que de si é já um paradoxo, pois o que será a fé senão uma crença inabalada pela ausência do concreto. "Porquê tudo aquilo se poderia ser tão simples?" É o que pensas e que ninguém te julgue por isso. A humanidade sempre tem disto, sempre adorou a palavra "se". É a falácia de quem vive. Tudo poderia ser diferente, mas o que é sempre vai ser e tudo o que poderia ter sido é irrelevante.
Desistes. Sentes o desconforto da areia na pele nua, rico preço a pagar pelo que o destino te quis.
Chegou uma rapariga de cabelo cor de avelã. Sentas-te e olhas enquanto também ela cai vítima daquilo que é tão natural como a vida. Afinal o que é o vento se não vida? A rapariga do cabelo cor de avelã faz umas poucas tentativas em vão. Sorris. Não que a queiras mal... apenas pelo simples egoísmo que é o de desejar partilhar o sofrimento. Não te doi menos a ti, enquanto indivíduo, mas há uma certa leveza... ousaria até chamar-lhe beleza, em sentir que temos outros no mesmo barco, mesmo quando sabemos que se dirige ao bojador.
A rapariga do cabelo cor de avelã olha-te nos olhos, como se adivinhasse os teus pensamentos. Pega na toalha. Vira-se a favor do vento. Estende-a. Deita-se. Sorri.
O teu sorriso apaga-se como um verão que passou a inverno sem outono. Mas ela sorri. E sorri, não porque a vida lhe tivesse sorrido em primeira mão, mas porque é este o poder de quem sabe ser feliz.

Diana Inácio
24/08/2023

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